Foi o ano passado, a última vez que o vi. Você carregava uma mala, a um ombro, e eu esperava por alguém de quem viria a esquecer o nome, a voz, o rosto, tudo. Obviamente, não lhe perguntei se partia, se chegava, nem você inquiriu sobre que fazia eu, naquele momento, numa estação de camionetas, longe de casa. Lacónicos, despedimo-nos: você mandou lembranças a minha família, coisa com que eu não podia replicar-lhe; limitei-me a dizer "serão entregues". Achava que você sofria muito desde que os seus filhos deixaram de falar consigo, mas que era um homem forte, prático. Ainda foi para as Perolivas, ouvi contar, viver de bichos que começara a criar. Remediava-se por lá. E veja: há duas manhãs, os olhos da minha mãe pasaram pelo «Diário do Sul» e deram com o sr. João nos obituários. Deve recordar-se de como a mãe é, certo? pôs-se a recear "o pior" e não sabia a quem perguntar como. O meu pai lá se lembrou de um antigo patrão seu, o da livraria. Ficámos, então, a par de que você teve uma grande dor de cabeça, foi para o hospital e findou-se numa maca. Ora, isto ninguém poderia intuir. Você não tinha a morte no espírito nem sequer mais de cinquenta e três anos. É verdade, não é, sr. João? a vida leva-nos para onde temos de ir, não para onde queremos que nos leve.
29 de setembro de 2005
23 de setembro de 2005
Isto é um blog como a minha cabeça. Os posts aparecem e desaparecem, e por vezes regressam, modificados. É provável que busque alguma proximidade com o que acho menos longe da perfeição. Eu digo "o que acho menos longe", porque não tenho ilusões de que não me fique pelos seus subúrbios. Sempre me apeteceu ir fazer férias às Maldivas ou festas a uma carinha laroca de pensar atractivo, mas ele há coisas fora do meu alcance, simplesmente há.
10 de setembro de 2005
Anotações em Tomamoenga
Aproxima-se o Grande Dia do Chá Verde. Segundo Al-Barmuran, o guia que me acompanha nesta expedição, toda a gente, pela ocasião mencionada, ao ouvir o ribombar de tambores, irá abrir as portas de colmo das cabanas, estentendo uma malga aos Homens do Bule, que encherão cada uma até metade. Na presença de um Homem do Bule, profere-se: "Mamã minha, vou purificar-me outra vez!" De imediato, o Homem do Bule replica, com as seguintes palavras: "Mamã, como poderia resistir-te?", e aproxima o bule das bocas, para que este seja beijado. A seguir, desaparece, aos giros, numa espécie de partida bailada, símbolo da leveza do sustentável ser. Por fim, e de um só trago, bebe-se a poção, à qual é permitido adicionar açúcar apenas excepcionalmente, isto é, caso se esteja calçado com botas de couro brancas até aos joelhos. Referi a Al-Barmuran que não suporto tisanas sem açúcar e perguntei-lhe se, eventualmente, as minhas caligas não passariam por botas de couro brancas, ademais considerando que tenho a pele clara, ao que prontamente se saiu com esta tirada de humor, ainda que com o semblante sóbrio: "Eu empresto-lhe as minhas botas de couro brancas até aos joelhos, sim, mas na condição de você não escrever coisas ridículas".
7 de setembro de 2005
Agosto é o carnaval do espírito; Setembro, o desfile da epifania.
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