26 de janeiro de 2006

Entretanto, antigamente


Entravam por debaixo da porta da varanda e desciam as escadas até chegarem à saleta, gélidas como princesas da Islândia. Portanto, correntes de ar. E eu escrevia flúidamente, qual Reinaldo Arenas - com a diferença (uma, entre milhares) de que ele escrevia à-máquina e eu com uma esferográfica de laboratório de fármacos. Ele sempre se divertiu mais do que eu. Fez sempre muito mais barulho do que eu. E quiçá até mofasse mais, e fizesse mais caretas que Bjork. Quiçá o frio que eu sentia fosse ele, talvez fosse ele a descer as escadas.

20 de janeiro de 2006

A bibliotecária espirituosa

Na portaria deram-me uma ficha de inscrição a preencher, uma chave de cacifo número 32 e disseram-me que subisse as escadas. Fui dar à Sala de Leitura, onde um empregado, que lia um jornal, me indicou o caminho. Por onde passasse, as minhas sapatilhas faziam chiar a madeira. Atravessámos, assim, o meu ruído e eu, um corredor com estantes à esquerda e, à entrada da sala imediatamente a seguir, dirigímo-nos a uma funcionária que encontrámos sentada frente a um portátil ligado a um aparelho que supus ser uma impressora.
- Tem atestado de residência?
- Não trouxe comigo. Serve, o b.i.?
- Tem carta de condução?
- Sim.
- Importa-se de ma mostrar? Nós aqui na biblioteca não confiamos no que as pessoas nos dizem; precisamos de provas.
Fez-me mais uma série de perguntas, parecendo querer corroborar ou desmentir o que eu redigira na ficha de inscrição. Depois, inseriu um cartão de plástico na tal maquineta e mandou-me olhar para uma webcam; ia tirar-me uma fotografia.